Familiares de Nadson Almeida falam em audiência na Câmara
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Itabuna se reuniu nesta segunda-feira (13) para ouvir familiares do adolescente Nadson Almeida, morto durante perseguição policial em fevereiro de 2014, no bairro Lomanto. Os pais, a irmã e amigos do jovem compareceram à audiência, onde apresentaram seu relato sobre o caso. O mecânico Nailton Almeida, pai da vítima, disse que até hoje não compreende a ação policial que resultou na morte de seu filho. Os policiais militares que perseguiram Nadson alegaram ter confundido o adolescente com um possível bandido. Na fuga, o jovem de 14 anos, que pilotava uma moto, passou por quatro ruas e acabou sendo atropelado pela viatura quando passava pela Rua Jorge Amado. Segundo o advogado Davi Pedreira, que assiste a família, pelo menos dez pessoas testemunharam o fato e sustentam que o atropelamento foi proposital. Imagens de vídeo também são usadas como prova pela acusação.
Para Pedreira, os policiais são treinados e deveriam ter observado que perseguiam um menino. O advogado afirma também que, no momento em que foi atropelado, Nadson se encontrava em uma rua parcialmente fechada por um muro, com uma única saída na qual havia outra viatura pronta para interceptá-lo. “Era um domingo, 10 horas da manhã e havia um muro na frente”, relatou, procurando demonstrar que havia boas condições de visibilidade para os policiais o adolescente não tinha mais condições de prosseguir na fuga pouco antes de ser atingido pela viatura. A morte de Nadson revoltou moradores do bairro Jorge Amado, que se uniram à família em um clamor para que a justiça se pronuncie com brevidade sobre o caso. As investigações apontaram que o soldado Wallace Feitosa foi o responsável pela morte do adolescente. Seis promotores de justiça assinaram a denúncia contra o policial, acusado de ter cometido homicídio doloso. Presidente da Comissão de Direitos Humanos, o vereador Jairo Araújo (PCdoB) disse que não há intenção de fazer um prejulgamento, mas enfatizou que “a busca de justiça deve ter amparo na Câmara de Vereadores”. Segundo Pedreira, a ação no judiciário está na fase das alegações finais e a expectativa é de que o policial Feitosa seja levado a júri popular. O advogado sugeriu que a CDH encaminhe ofício ao judiciário, informando sobre a realização da audiência pública e pedindo celeridade no julgamento. CULTURA DE PAZ – O vereador Jairo Araújo acredita que, sem a construção de uma cultura de paz, fatos como o que vitimou o menino Nadson Almeida tendem a se repetir. Ele defendeu a apuração do caso e punição dos responsáveis, como forma de inibir a violência. “Jovens pobres e negros estão sendo mortos por policiais que em sua maioria também são jovens pobres e negros”, ressaltou o presidente a comissão. Na opinião do vereador, “a própria polícia quer mudar isso”. Araújo defendeu a instituição Polícia Militar, a qual classificou como um “instrumento importante para a sociedade”. Lembrou já ter sido preso, juntamente com o ex-vereador Luís Sena, quando defendia os policiais em uma das greves da corporação. O vereador Nadson Monteiro (PPS) se posicionou igualmente pela defesa da polícia como instituição, mas declarou ser necessário responsabilizar quem age contra a lei ou comete abuso de autoridade. “Vamos defender a Polícia Militar e os bons policiais, mas não se pode concordar com elementos que denigrem a classe”, considerou. Também presentes à sessão, os vereadores José Silva (PSDB), Pastor Francisco (PRB), Júnior Brandão (PT) e Glebão (PV) demonstraram o mesmo posicionamento. OUTRO LADO – Para a vereadora Valéria Morais (PSC), que pertence à PM, a morte de Nadson Almeida foi uma fatalidade. “A abordagem policial precisa ir até o fim, inclusive porque muitos adolescentes usam armas e até matam, embora esse não fosse o caso de Nadson”, declarou. O policial Rodrigo Rocha, diretor da Associação dos Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra), disse que é solidário à família de Nadson, mas opinou que Feitosa agiu em “estrito cumprimento do dever legal”. Rocha também reclamou da “demonização da polícia” e pediu que fosse observado no caso o princípio da presunção da inocência.
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